Vai se chamar Aruana (Sentinela) o primeiro filhote de harpia a ter seu nascimento registrado na Reserva
Natural Vale (ES), que está deixando o ninho e pronto para alçar voos mais longos. O nome foi escolhido
por votação popular, a partir de quatro nomes selecionados pelos pesquisadores do Projeto Harpia junto
com crianças de escolas da região. Foram mais de 28,5 mil votos em uma disputa acirrada: o nome vencedor
teve 7,4 mil votos, contra 7,3 mil do segundo colocado, Araci (Mãe do Dia).
Considerada a maior ave de rapina encontrada no Brasil, o gavião-real, como também é conhecida a
espécie, foi monitorado 24h por câmeras ao longo de dois anos. Os pesquisadores do Projeto Harpia, da
Universidade Federal do Espírito Santo, acompanharam os principais saltos de desenvolvimento da jovem
fêmea, que agora poderá decidir ficar na área, um remanescente de 50 mil hectares de Mata Atlântica, ou
mesmo migrar para fragmentos de floresta no sul da Bahia.
O nome mais votado foi uma sugestão do aluno Heitor, da escola EEEF Regina Bolssanello Fornazier. Ele irá receber um kit da "Be Nature". O segundo lugar foi o nome Araci (mão do dia), sugerido pela aluna Nicoli, da escola EMEF Pedro Balbino de Menezes, que receberá um exemplar do livro “Harpia”. O terceiro lugar (Anahi - Bela Flor do Céu) foi uma sugestão da estudante Maisa, da escola EEEF Regina Bolssanello Fornazier, e ela irá ganhar uma camisa do Projeto Harpia. Esta escola também será premiada com um livro da série “Áreas Protegidas”, do Instituto Últimos Refúgios. Também participou da ação a EMEF Chumbado.
Segundo a pesquisadora do Projeto Harpia, Helena Aguiar, esta atividade para nomear harpias é realizada
pelo projeto desde 2004, quando o primeiro filhote, também uma fêmea, recebeu o nome de Naruna (índia
guerreira) numa região de Parintins, no Amazonas. Uma das regras é que os nomes sugeridos sejam de
origem indígena. "Incluir as crianças no processo de pesquisa, seleção e sugestão de um nome para a
harpia é uma oportunidade de aproximá-las do conhecimento sobre as harpias e a natureza e fazê-las amar
essas riquezas naturais de nosso país. Estender a votação popular a todos é também uma forma de
sensibilizar uma grande quantidade de pessoas sobre a importância da conservação da natureza",
destaca.
O ninho foi descoberto em 2016 por observadores de aves, e desde março de 2017 uma câmera instalada
pelos pesquisadores do Projeto Harpia na copa de uma árvore monitora o comportamento das harpias no
ninho. A câmera flagrou o namoro do casal em várias oportunidades. A fêmea chegou a colocar ovos outras
vezes e chocá-los, mas os filhotes não nasceram. Em março de 2019, finalmente, um filhote nasceu e
sobreviveu.
Pelas câmeras, foi possível acompanhar os principais saltos de desenvolvimento da pequena fêmea, agora
chamada de Aruana. Com pais protetores, ela iniciou seus primeiros voos com cerca de cinco meses de
idade e com cerca de um ano começou a explorar a floresta.
Segundo os pesquisadores do Projeto Harpia, o registro dessa espécie predadora de topo de cadeia
ecológica se reproduzindo na Reserva Natural Vale é um resultado importante e satisfatório dos esforços
para preservação de uma das maiores áreas protegidas de Mata Atlântica, uma vez que esses animais
precisam de áreas com boa qualidade e uma ampla diversidade de animais para se alimentar. A harpia, ou
gavião-real (Harpia harpyja), é uma espécie ameaçada de extinção, classificada como Criticamente em
Perigo no Espírito Santo e Vulnerável em todo o território brasileiro.
A espécie se alimenta principalmente de animais arborícolas como macacos e bichos-preguiça. As harpias
adultas podem medir de 90 a 105 cm de comprimento, com até 2 metros de envergadura de asas, e pesar de 4
a 5 kg (machos) ou 6 a 7 kg (fêmeas). Seus ninhos podem chegar a 1,9 m de comprimento por 2 m de
largura, em árvores majestosas como jequitibás-rosa e embiruçus na Mata Atlântica.
A Reserva Natural Vale abriga três casais de harpias conhecidos. Desde 2010, um segundo ninho é
monitorado pelo Projeto Harpia, ainda sem registro de tentativas de reprodução do casal. O terceiro
ninho foi descoberto em meados de 2019 e já tem registro do namoro do casal, o que anima os
pesquisadores.
Saiba mais
A escolha do nome da harpia é uma iniciativa do Projeto Harpia (Universidade Federal do Espírito Santo)
com apoio da Vale, por meio da Reserva Natural Vale. O Projeto Harpia realiza ações para o monitoramento
de indivíduos e ninhos de Harpia harpyja na Reserva Natural Vale (RNV) e Reserva Biológica (Rebio) de
Sooretama, localizadas no norte do estado Espírito Santo. As ações visam gerar e difundir o conhecimento
científico, desenvolver atividades educação ambiental e promover a observação na natureza dessa espécie
bandeira, que é criticamente ameaçada de extinção na Mata Atlântica e guarda-chuva na conservação da
biodiversidade na região neotropical. Sigam as redes sociais do Projeto Harpia:
Instagram: @projetoharpiabrasil
Facebook: @harpiaprojeto/
Site: https://www.projetoharpia.org/
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Foto de Gabriel Bonfa